domingo, 5 de junho de 2011

Saudosismos e Raça Negra

Engraçado como na minha infância e adolescência, e acho que até pouco tempo atrás, eu tinha uns saudosismos loucos. Sentia saudade até da época em que meus pais se casaram. Aí já é demais, né! Eu pensava no casório dos dois: O fusca branco, o terno xadrez cinza em que cabia dois do meu pai, a igreja abarrotada como não se vê mais. E tudo tinha aquele charme das boas fotografias em preto-e-branco. Pelo menos essa era a idéia que eu fazia. Mas hoje não tenho mais esses saudosismos esquizofrênicos. Era um saco. Uma subestimação boba do presente e do real, uma fuga, acho que por não ter a coragem necessária pra viver bem o presente e o real, me refugiava nesse mundinho, e na crença de que no passado tudo era mais legal. Mesmo um passado que eu não conheci. 


Loucura parecida e também muito em voga na minha infância e adolescência era aquela paixonite que a gente inventava, estimulada e sustentada pelas músicas do Raça Negra. Hit novo do Raça Negra, a gente ouvia, ouvia, ficava todo abobado, romanticozinho, com uma sofreguidão louca. E por quem? Ah! Isso decidia-se depois, era a parte mais fácil, sempre tinha uma feiosa cujo charme só a gente conseguia enxergar, ou uma bonitinha que morava meio longe, tipo na Austrália. Ou uma menina sofrida que tinha um pai bem violento que botava o terror. Tanto faz! O importante era inventar uma paixão irrealizável, não mover uma palha pra fazê-la mais viável, curtir essa dolorida distância física ou circunstancial, criando a atmosfera necessária para compartilhar do clima sentimentalóide e dar sentido à música do Grupo Raça Negra. Ê, paixão!

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